sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Britânicos bloqueiam milhões de Dantas


A Justiça da Grã-Bretanha comunicou nesta quinta-feira ao Brasil o bloqueio de 46 milhões de dólares (equivalente a 81 milhões de reais) pertencentes ao banqueiro Daniel Dantas – do Grupo Opportunity. O dinheiro está depositado em duas contas de bancos ingleses e foi descoberto pelas investigações da Operação Satiagraha, da Polícia Federal, que levou o banqueiro à prisão em julho. Em agosto, o Ministério Público (MP) brasileiro já havia conseguido o bloqueio de 545 milhões de reais do Opportunity.
Os 46 milhões de dólares vinham sendo monitorados por uma ação conjunta do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), unidade brasileira de combate à lavagem de dinheiro, e de autoridades britânicas. O Coaf teria detectado movimentação nas contas.
O Ministério Público brasileiro, então, teria pedido o bloqueio dos bens, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo desta sexta-feira. O contato com as autoridades britânicas foi feito pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI).
“Fomos prontamento atendidos dentro das regras de cooperação jurídica entre os dois países”, disse o secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior. O governo pretende pedir a repatriação dos recursos.
Com a medida, a PF espera retomar a investigação original da Operação Satiagraha, que pretendia, segundo o jornal, investigar os negócios financeiros de Dantas por meio do Opportunity Fund Cayman. Clientes brasileiros, empresários e políticos usariam o esquema bancário dele para lavar dinheiro e fazer investimentos ilegais dentro e fora do país.
O advogado Nélio Machado, defensor de Dantas, criticou a ação e disse que seu cliente é perseguido. “Este não é um processo penal com observância do princípio legal da publicidade e a defesa está completamente cerceada”, disse.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

ENTREVISTA-"Deus mercado virou diabo", diz Conceição Tavares


Por Mair Pena Neto

RIO (Reuters) - Os Estados Unidos precisam regular, e rápido, o seu sistema financeiro sob pena de não conseguirem controlar a atual crise e perderem sua hegemonia no setor, advertiu a economista Maria da Conceição Tavares em entrevista à Reuters.

Estabelecer as regras do jogo é a questão-chave para estabilizar o mercado, na opinião da professora da UFRJ e da Unicamp, uma das principais vozes da economia brasileira desde a década de 1970.

Mas seria interesse do capitalismo se regular? Conceição acredita que nesse momento, sim, pois o modelo neoliberal naufragou de vez. "O Deus mercado virou diabo na terra do gelo."

A economista vê sinais de declínio dos EUA até pelo fato de o país não estar mais sozinho, como na crise de 1929, e ter que se entender com a China.

"Não escreveria hoje, como escrevi em 1984, a retomada da hegemonia americana. Ou resolvem rápido essa crise ou, se deixarem para depois da eleição, não conseguem manter a hegemonia", afirmou Conceição para emendar taxativa: "O século 21 não será norte-americano."

LOS HERMANOS E BIG BROTHER

"O Brasil ainda não está ameaçado. Os bancos brasileiros não estão metidos nessa ciranda. Há uma supervisão muito grande do Banco Central. Mesmo os derivativos, a BM&F registra. Não tem controle de capitais, mas tem registro, o que significa que se você quiser controlar tem os instrumentos. As condições favoráveis do Brasil são as seguintes: bancos privados não estão metidos nessa especulação; não temos dívida externa pública; temos reservas; o problema de balanço de pagamentos é pequeno; o impacto das commodities não dá para perceber e somos muito abertos ao mundo. Temos mais comércio com a Argentina do que com os EUA. Los hermanos são mais importantes que o big brother."

"A crise não está na economia real. Só na Europa e no Japão, onde a ligação entre bancos e a economia real é mais forte. No caso americano, não. Há um setor da economia real americana que já começou a decadência, e por aí virá uma recessão, que é o imobiliário. Esse não tem saída. No ciclo recente, o setor que primeiro puxa a economia americana é o imobiliário, depois automóveis, todos os duráveis, e, finalmente, o investimento. Ainda não está claro se serão afetados. O investimento das empresas depende do que vai acontecer com a bolsa. Se ela continuar oscilando, mas não tiver uma depressão, sobrevive."

RECESSÃO E DEPRESSÃO

"Acho que vai ter uma recessão, ninguém duvida. Mas uma coisa é uma recessão, outra é uma depressão. Não há dúvida que ainda vai ter uma liquidação de ativos financeiros que eram fictícios. Essa parte da liquidação financeira da riqueza vai continuar e a gente não sabe até quando. A ligação entre essa crise e o setor real agora é o aperto global do crédito. Se continuar, vamos para uma recessão global. Sem crédito não funciona capitalismo algum."

ONTEM E HOJE

"A única coisa que pode dar um certo otimismo é que em 1930 os EUA estavam sozinhos no comando, mas agora eles têm a China como parceira. Em 1930, os EUA não tinham sócios, todas as reservas do mundo estavam com eles. Agora, os EUA não têm reservas, só têm dívida. Todas as reservas em dólar estão basicamente na Ásia."

DECLÍNIO DO IMPÉRIO

"Dessa vez acho que é sinal do declínio (americano). A menos que levem no bico os chineses e russos. Estão com problemas de petróleo. Tinham que ter tomado providências imediatas para regular o mercado futuro de petróleo. Você não consegue mais fazer preço e os preços não têm tendência específica, sobem e descem de maneira enlouquecida. Nisso não se parece nada com 1930, que era uma crise de deflação de ativos e de preços. Agora é de liquidação de ativos financeiros e os preços... não têm uma tendência definida."

SEM BRETON WOODS

"A complicação é como (os EUA) se entendem com Europa de um lado e China do outro. Não são parceiros da mesma natureza. Infelizmente, não creio que vá haver uma reunião como Breton Woods. Não estamos caminhando para uma ordem mundial nova. Estamos caminhando para uma certa desordem. Os parceiros não vão seguir as ordens americanas, sobretudo em matéria financeira. É difícil um acordo por Estados. Acho que os EUA vão se regular primeiro e os demais países vão se adaptar, não creio em uma regulação conjunta. Seria ideal, mas não creio."

FALHAS NO PACOTE

"O (Henry) Paulson (secretário do Tesouro dos EUA), homem de Wall Street, propôs salvar os bancos e só. Não disse mais nada sobre regulá-los. Os candidatos não estão satisfeitos com essa idéia de socializar os prejuízos. (Os EUA) fizeram isso na década de 1990. A raiz dessa crise é a crise de 1990, quando ao invés de regular liberalizaram tudo na pretensão de que os mercados se autoregulavam, sobretudo as grandes instituições que tinham rating. Aí o Congresso começou a chiar e aos poucos os bancos vão começar aceitando a supervisão."

DEUS E O DIABO NA TERRA DO GELO

"No momento interessa ao capitalismo se regular. O neoliberalismo foi-se. O Deus mercado virou diabo na terra do gelo. Sofreu golpe mortal. Paulson ainda queria manter dessa maneira, tanto que não falou em regulação, mas o pessoal cobra porque é dinheiro pra burro... O governo terá de regular, não é um processo fácil. Terá que fazer acordo com comissões financeiras do Senado e da Câmara. Se conseguirem um acordo, aí já dá para todos irem para casa disputar as eleições."

DONO DO CASSINO

"Ou os EUA resolvem quais são as regras agora, enquanto são donos do cassino, ou daqui a pouco não adianta nada porque não serão mais os donos. É mais fácil fazer acordo quando eu, que sou a banca, faço as regras e convido os demais a seguirem ou se adaptarem. Ou resolvem rápido ou se deixarem para depois da eleição não conseguem manter a hegemonia."

SEM DINHEIRO

"O auxílio dos bancos centrais não resolveu nada, só injetou liquidez. Quando você injeta liquidez mas os bancos não emprestam uns aos outros, mais sobe a taxa interbancária. Esse assunto não está resolvido. Foi isso que levou o Paulson a avançar para resgatar os títulos podres para que as instituições fiquem sãs."

corrupção no Brasil

Não adianta espernear


Do blog da cientista política Lucia Hippolito:

Dados recentes da Transparência Internacional, a mais respeitada instituição no gênero em atuação no mundo inteiro, revelam que piorou a situação do Brasil no quesito “combate à corrupção”.

Evidentemente, a primeira reação das autoridades brasileiras foi espernear e tentar desqualificar a pesquisa e a própria Transparência Internacional.

É o tal negócio. Quando o rei recebia uma notícia ruim, a primeira providência era mandar matar o mensageiro.

Não adianta. Seria mais proveitoso se tentássemos entender por que o Brasil continua a freqüentar a lista dos países mais corruptos.


Responder o comentario do NOBLAT AO BLOG DA LUCIA

Não penso que é só uma questão de espernear, pois o problema da corrupção atinge todos nós e cabe ao profissionais de imprensa apurar a verdade.No entanto, não é isso que vejo, pois somente aponta-se o caso dos 40 mensaleiros como exemplo da historia recente. A verdade é que o escandalo do mensalão sempre existiu, mas foi incoberto pelo governo anterior. A presunção da inocência, é sim um dos pilares do estado de direito,mas é hoje somente usado como arma poderosa a favor dos poderosos ajudado por uma imprensa acima do bem e do mal